Um dia, o
rapazinho deixou de a regar. Julgou que, de madura, não precisaria mais de
água, como se, de alguma forma, a idade lhe houvesse trazido a mesma capacidade
de auto-subsistência que ele, apesar de novo, já reconhecia em si próprio. Não
a regou mais, nem lhe dirigiu as ternas palavras com que dantes, na sua crença,
a fizera crescer mais e melhor, como lera num antigo livro de botânica
oferecido pelo avô. Limitou-se a contemplá-la, apreciando, orgulhoso, a sua
esbelta forma, gabando-a,
sem pudores, aos outros miúdos da escola. E um dia, por desleixe, ingenuidade,
jamais maldade (houvesse ele sabido...), o rapazinho viu a sua rosa morrer. A
que dizia ser a mais bela, a que incitava cobiça alheia, a mesma que quis
deixar de cuidar, transformando-a em mero objecto de deleite. Os demais gaiatos
fizeram troça: "onde está a tua linda rosa agora?". Olhando,
tristemente, através da densa névoa de um tenro e até então desconhecido
lacrimejo, para as pétalas secas de cor escura, sem nelas reconhecer o brilho e
a vivacidade de outrora, ele perguntou o mesmo. E, pela primeira vez, o petiz
experimentou os espinhos de um profundo e sincero arrependimento.
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