domingo, 16 de agosto de 2015

Um dia, o rapazinho deixou de a regar. Julgou que, de madura, não precisaria mais de água, como se, de alguma forma, a idade lhe houvesse trazido a mesma capacidade de auto-subsistência que ele, apesar de novo, já reconhecia em si próprio. Não a regou mais, nem lhe dirigiu as ternas palavras com que dantes, na sua crença, a fizera crescer mais e melhor, como lera num antigo livro de botânica oferecido pelo avô. Limitou-se a contemplá-la, apreciando, orgulhoso, a sua esbelta forma, gabando-a, sem pudores, aos outros miúdos da escola. E um dia, por desleixe, ingenuidade, jamais maldade (houvesse ele sabido...), o rapazinho viu a sua rosa morrer. A que dizia ser a mais bela, a que incitava cobiça alheia, a mesma que quis deixar de cuidar, transformando-a em mero objecto de deleite. Os demais gaiatos fizeram troça: "onde está a tua linda rosa agora?". Olhando, tristemente, através da densa névoa de um tenro e até então desconhecido lacrimejo, para as pétalas secas de cor escura, sem nelas reconhecer o brilho e a vivacidade de outrora, ele perguntou o mesmo. E, pela primeira vez, o petiz experimentou os espinhos de um profundo e sincero arrependimento.